Conheça 8 fatos sobre o massacre da Praça da Paz Celestial

Em 15 de abril de 1989 estudantes e intelectuais iniciaram uma série de manifestações contra o governo, acusavam o Partido Comunista Chinês de praticar corrupção, de agir de maneira repressiva e reivindicavam medidas democratizantes. O Massacre da Paz Celestial, como ficou conhecida é um tabu na China.

Perto da data em que se comemora o 25º aniversário dos acontecimentos, internautas começaram a denunciar a o aumento da censura a determinadas ferramentas na internet como o Google. O Partido Comunista nega a existência do massacre e evita — o máximo que pode — o debate em torno da questão.

A clássica imagem de um homem que tenta parar uma fileira de tanques que se dirigia para a praça é considerada uma das mais influentes do século 20. Não se sabe o que teria acontecido com o “homem-tanque”. Alguns relatos dão conta de que ele foi morto pelas tropas governamentais e outros que ele vive no interior do país.

homen tanque

1)  Vazamentos do Wikileaks negam que massacre tenha existido (da forma como contam)

Informes divulgados pelo The Daily Telegraph em 2011 negam a versão corrente de que soldados massacraram os estudantes na Praça Celestial. De acordo com as informações da embaixada dos Estados Unidos em Pequim, divulgadas com exclusividade pelo jornal, os militares abriram fogo contra manifestantes fora do centro da cidade. Outro telegrama diz que “um diplomata chileno testemunhou os soldados ocupando a Praça da Paz Celestial: embora alguns disparos pudessem ser ouvidos, ele disse que não viu nenhum fogo contra a massa de estudantes, viu apenas alguns deles apanharem”.

2)  Jornal The New York Times confirmou a versão

O chefe de sucursal em Pequim do jornal norte-americano à época, Nicholas Kristof, em artigo intitulado “Atualização da China: Como os linhas-duras venceram”, publicado em 12 de novembro de 1989, afirma no fim de um texto crítico ao governo chinês que “baseado em minhas observações nas ruas, nenhuma versão está certa, nem a oficial nem as feitas por estrangeiros. Não houve massacre na Praça da Paz Celestial, embora tenha havido muitas mortes em outras partes”. O autor foi duramente criticado pela declaração.

images (2) Chineses costumam acender velas em memória das vítimas

3)  Imprensa internacional

Apesar de a imprensa internacional estar em Pequim por ocasião da visita do ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, o governo ordenou que elas encerrassem suas transmissões. A única cadeia televisiva que pôde gravar o interior da praça na noite de 3 a 4 de junho foi a espanhola TVE. A maioria das emissoras estava no Hotel Pequim, de onde não é possível ver a Praça Celestial. Por isso, o diplomata espanhol Eugenio Bregolat sustenta que a imprensa se equivocou na cobertura por não ter presenciado os fatos. A versão de que tanques chineses teriam esmagado estudantes passando por cima e dando marcha à ré para esmagá-los novamente também é contestada pelo diplomata: “Os únicos blindados da história que deram marcha à ré foram tanques italianos em Guadalajara”, disse em entrevista ao El Periódico.com.

4)  Último manifestante foi libertado 24 anos depois

Jiang Yaqun foi posto em liberdade em maio de 2013, aos 73 anos. Ele sofre de Alzheimer e não tem casa ou família para recebê-lo, como disseram as autoridades chinesas. O jornal The Guardian afirmou que Yaqun foi o último manifestante “contrarrevolucionário” a ser libertado. De acordo com a organização China Human Rights Defenders, 906 manifestantes foram presos naquela ocasião.

5)  Números são controversos

Não existem cifras oficiais a respeito da quantidade de vítimas provocadas pela ação de 4 de junho. Autoridades, no entanto, mencionaram, logo após os fatos, que “um milhar de soldados e policiais foram mortos, feridos ou sequestrados”, como reportou o jornal El País no dia seguinte.

As mães da Praça da Paz Celestial possuem nome e sobrenome de 205 mortos. No entanto, “estimativa” realizada por jornais internacionais e ativistas do país é de que este número possa chegar a 3 mil. A dificuldade de reconhecer as vítimas estaria no fato de que muitos dos estudantes terem vindo do interior.

6)  Circo e protesto

Em 2013, o Cirque de Solei apresentou a emblemática foto do “homem tanque” em uma tela gigante por cerca de quatro segundos para uma plateia de cerca de 1500 pessoas em Pequim como parte de uma montagem de imagens de protestos durante apresentação de “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, durante a turnê “Michael Jackson Immortal World Tour”.

As imagens e menções aos protestos na Praça da Paz Celestial seguem sendo proibidas na China.

7)   Até a Bolsa protestou

Em 4 de junho de 2012, a Bolsa de Xangai registrou uma queda de 64,89 pontos, o que foi apontado como uma lembrança à data do massacre (4/6/89).

8)  Mais vítimas

Em maio de 2012, Ya Weilin, pai de um dos jovens mortos em 1989, suicidou-se em protesto contra a falta de respostas das autoridades a respeito dos acontecimentos. “A China, o grande Partido Comunista da China matou meu filho, mas nunca sequer pediu desculpa. Nós somos cidadãos não podemos dizer uma única palavra?”, escreveu tempos antes de se matar.

Bibliografia: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35541/conheca+8+fatos+sobre+o+massacre+da+praca+da+paz+celestial.shtml

Os reflexos de maio de 68

O ano de 1968 foi agitado em todo o mundo. Nos Estados Unidos havia movimentos pacifistas (contra a guerra do Vietnã) e contra o racismo. Na Europa, estudantes se rebelaram contra as autoridades. E no Brasil os universitários organizaram passeatas contra a ditadura militar.

Mais de quarenta anos depois, é tempo de avaliar a herança que o Maio de 68 deixou, não só à sociedade francesa, mas ao mundo. Os ecos do movimento revolucionário, que pôs em causa o “poder gaullista”, repercutiram-se a nível internacional.

No entanto, existem vozes que contestam a validade do movimento estudantil. Durante a campanha eleitoral das presidenciais, o presidente francês Nicolas Sarkozy, afirmou que era necessário “liquidar” a herança do Maio de 68.

Para Vasco de Castro, artista plástico que participou ativamente nas movimentações estudantis, o Maio de 68 “alterou o rumo da história”, pois foi o ponto de partida para acontecimentos como a queda do Muro de Berlim.

“Foi nas ruas de Paris que se começou a abrir brechas no Muro de Berlim. As primeiras ideias de contestação que deram alento às pessoas começaram lá. Inspirou, por exemplo, a Primavera de Praga, a queda do sistema ideológico de Leste e, pela primeira vez, falou-se da condição feminina”, considera.

Também Fernando Pereira Marques, exilado político em França, defende que a maior consequência do Maio de 68 foram as transformações sociais que provocou. “Antes do Maio de 68 as raparigas não podiam ir de calças para as aulas. Se fossem tinham de usar saia por cima. Havia a vontade de mudança e isso notou-se na defesa da sexualidade, do estatuto da mulher, das relações entre sexos”, afirma o sociólogo, que assistiu ao eclodir do movimento acadêmico.

A nível operário, por exemplo, o movimento provocou o aumento de salários. E possibilitou a participação dos estudantes na vida universitária. A universidade mudou-se em França”, conclui o antigo estudante da Sorbonne.

“As pessoas despiam-se no meio da aula”

A psicanalista Maria Belo chegou a Paris em Setembro de 68. “Respirava-se revolução”, afirma, ao descrever a sociedade francesa após o movimento estudantil. “Houve uma quebra de tabus. As pessoas despiam-se no meio da aula para provocar, começou uma liberdade de costumes,” refere a ex-deputada do Partido Socialista.

“Começou-se a pensar pela própria cabeça, a ter relações mais livres, a intervir mais, mas, por outro lado, nasceu a noção do consumo, da prevalência de um certo ‘parecer’ sobre o ‘ser'”, afirma Maria Belo.

Também a jornalista Diana Andringa defende que o movimento estudantil provocou uma “alteração de mentalidades”. No entanto, a jornalista não acredita que o Maio de 68 tenha alterado o curso da história. “Hoje em dia já não se nota tanto essa influência. Penso que se os ideais da Geração de 60 tivessem vencido teríamos um mundo diferente”, salienta Diana Andringa.

“No Maio de 68 gritava-se: ‘Não queremos ser os capatazes das fábricas’. Hoje procura-se a ligação dos licenciados ao mercado de trabalho. A pessoa não pode ser só rotina”, exemplifica a jornalista.

Andringa vai mais longe ao afirmar que existe uma “tendência para esquecer”: “No Maio de 68 os jovens lutavam, em todo o mundo, por uma sociedade. O legado que o Maio de 68 me deixou foi esta inquietação, esta angústia. E a angústia é algo criativo”, considera a jornalista, que criou um programa de televisão dedicado à “Geração de 60”.

Em entrevista, ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso fala sobre a herança dos movimentos sociais de 1968

 Qual é a herança de 68 no mundo de hoje?
FHC
– Os valores mudaram. Veja a igualdade de gêneros. Temos várias presidentes mulheres no continente e uma candidata a presidente nos EUA (a democrata Hillary Clinton disputa a indicação do partido). Houve um avanço grande a essa reivindicação. O formalismo na academia francesa era insuportável, havia uma distância enorme entre alunos e professores. Antes de o professor entrar na sala entrava um bedel com um bastão, batia no chão e anunciava o professor. Todos os alunos ficavam em pé. A França era uma sociedade bloqueada. Desbloqueou. Houve modificações também na vida política. Os verdes passaram a ter maior papel no mundo, o que foi indiretamente uma herança de 68. Nos EUA houve um movimento muito forte, mas por causa da guerra do Vietnã e da questão racial. Em 68 houve a ofensiva do Tet (ataque dos vietcongs em 31 de janeiro durante a Guerra do Vietnã). Eu via pela TV na França imagens incríveis da matança, e os americanos também viram isso. A resposta foi enorme, com protestos contra a guerra e contra o racismo.
­­­­­­­­­­­

Bibliografia: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL463645-15530,00-E+ANTIDOTO+CONTRA+INTOLERANCIA+MUNDIAL+DIZ+FHC.html

http://jpn.c2com.up.pt/2008/05/02/maio_de_68_trouxe_uma_alteracao_de_mentalidades.html

A misteriosa morte de Tancredo Neves

tancredo

A ditadura estava enfim acabando no país e teríamos o primeiro presidente civil: Tancredo Neves. Mas ele jamais assumiu seu cargo e morreu de maneira muito suspeita, deixando sua vaga aberta para Sarney e um clima de desconfiança em todo o país.

Era fim do dia 14 de março de 85, somente algumas horas antes da posse de Tancredo, quando ele foi para uma missa. De lá ele saiu sentindo-se mal e ainda na mesma noite foi internado no Hospital de Base de Brasília. Alguma coisa estava errada com o futuro presidente, que deveria assumir na manhã seguinte.

Na mesma madrugada o Presidente foi operado naquele hospital, que não tinha as condições necessárias para tal operação, pois sua UTI estava em reforma. Mas por algum motivo desconhecido os médicos impediram Tancredo de ir para São Paulo, onde poderia ser melhor tratado.

Foi alegado que ele estava sofrendo de apendicite aguda, mas depois ficou óbvio que isso foi apenas uma de tantas mentiras.

Enquanto o Presidente tentava se recuperar da cirurgia, Sarney assumia o cargo e um fato estranho acontecia com João Rosa, o mordomo de Tancredo: o homem sentia as mesmas dores e sintomas do presidente…

images

Foto tirada depois da cirurgia, alguns dizem que ele já estava morto nessa imagem:

Os boatos começaram a correr, algumas pessoas diziam que a morte dele era um golpe militar, outros que Sarney tinha mandando matar o presidente para assumir em seu lugar. Alguns contavam que durante a missa houve falta de luz e um tiro foi ouvido, contudo o que mais se falava era de um possível envenenamento.

Trinta e oito dias depois o primeiro presidente eleito depois da ditadura estava morto e faltavam explicações. Até hoje a família de Tancredo ainda busca informações sobre a verdadeira causa da morte. Assim como a família do mordomo João, que morreu um dia depois do Presidente de diverticulite, uma das doenças que os médicos alegaram que Tancredo tinha… Coincidência ou será que os dois acabaram envenenados por compartilharem os mesmos ambientes?

Entre o dia antes da posse e sua morte, Tancredo passou por 7 cirurgias e oficialmente seu falecimento foi causada por infecção generalizada. Só que nem mesmo a família acredita em tal coisa, afinal são muitos dados estranhos:

– Incrivelmente um dia antes de sua posse ele vai parar no hospital;

– Sua cirurgia é feita em um lugar com péssimas instalações;

– Cada médico alega uma doença diferente, não há consenso;

– O mordomo do presidente sofre com os mesmo sintomas e morre apenas um dia depois dele;

– O Presidente só vai para São Paulo quando sua situação é irreversível.

Essas são apenas algumas perguntas que envolvem a morte do primeiro Presidente pós-ditatura do Brasil, em um dos mais estranhos casos na história do país.

A teoria do assassinato

Segundo muitas pessoas afirmam, Tancredo Neves já chegou ao hospital morto, ou morreu logo após. Ele poderia ter sido vítima de envenenamento como também de um atentado a tiro. Mas por que sua morte só seria revelada no dia 22 de Maio?

Segundo as teorias que afirmam que Tancredo Neves foi assassinado, isso aconteceu como uma jogada dos militares. Eles mentiram a respeito da morte do presidente eleito, que ainda não havia tomado posse, para que seu vice, Sarney, pudesse assumir em seu lugar. Sarney era visto com bons olhos pelos militares, afinal ele pertencia ao PFL, que havia sido fundado por políticos que haviam deixado o partido PDS.

Em 1979 o congresso brasileiro colocou um fim no bipartidismo (ARENA e MDB), possibilitando assim a fundação de vários partidos, entre eles o PDS, que passou a ocupar o lugar que era da ARENA (Aliança Nacional Renovadora), que por sua vez era um partido fundado em 1965, usado para dar legitimidade política ao golpe militar de 1964. Embora Sarney tivesse deixado o PDS, ele contava com a simpatia dos militares.

Se Tancredo Neves fosse declarado morto antes da data da posse, novas eleições deveriam ser convocadas, enquanto isso quem assumiria o governo seria o presidente da câmara, Ulysses Guimarães. O medo dos Militares era de que se uma nova eleição acontecesse, Ulysses Guimarães concorresse ao cargo de presidente. Ulysses era do mesmo partido de Tancredo, o PMDB, e o havia apoiado na eleição.

images (1)

Ulysses Guimarães

Ulysses foi um político do antigo partido MDB, rival do partido militar ARENA, e foi um dos grandes nomes que lutaram pelas eleições diretas.

Os militares optaram por ocultar a morte de Tancredo, a fim de garantir que Sarney subisse ao poder. Assim o presidente não seria o candidato preferido dos militares (ele apoiaram Maluf), mas pelo menos Sarney seria melhor que Ulysses, do ponto de vista dos militares.

Ulysses acabaria morrendo em 1992 em um acidente de helicóptero. O aparelho caiu no mar em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, junto com Ulysses faleceram na queda à sua esposa D. Mora, o ex-senador Severo Gomes, a esposa deste e o piloto. O corpo de Ulysses foi o único que nunca foi encontrado.

Uma variação dessa teoria afirma que os militares brasileiros contaram com o apoio do governo do EUA. O Governo norte americano estaria preocupado com declarações feitas por Tancredo Neves durante o período das eleições. Tancredo muitas vezes havia afirmado em seus comícios que não pagaria a dívida externa com o sofrimento do povo brasileiro. Com isso ele afirmava que iria investir no desenvolvimento do Brasil e apenas em um segundo momento ele pagaria a dívida externa. Os EUA teriam desaprovado tais declarações, e assim apoiaram o plano dos militares brasileiros.

Nesse plano conjunto a CIA teria colaborado com os militares brasileiros fornecendo o veneno que acabou sendo usado contra Tancredo Neves.

Bibliografia: http://minilua.com/o-arquivo-negro-presidente-morto-5/

http://noitesinistra.blogspot.com.br/2014/07/a-misteriosa-morte-de-tancredo-neves.html#.VGdyefnF-Lo

Diretas Já !

Diretas Já  foi um dos movimentos de maior participação popular, da história do Brasil. Teve início em 1983, no governo de João Batista Figueiredo  e propunha eleições diretas para o cargo de Presidente da República. A campanha ganhou o apoio dos partidos PMDB e PDS, e em pouco tempo, a simpatia da população, que foi às ruas para pedir a volta das eleições diretas.

Sob o Regime Militar desde 1964, a última eleição direta para presidente fora em 1960. A Ditadura já estava com seus dias contados. Inflação  alta, dívida externa exorbitante, desemprego, expunham a crise do sistema. Os militares, ainda no poder, pregavam uma transição democrática lenta, ao passo que perdiam o apoio da sociedade, que insatisfeita, queria o fim do regime o mais rápido possível.

Em 1984, haveria eleição para a presidência, mas seria realizada de modo indireto, através do Colégio Eleitoral. Para que tal eleição transcorresse pelo voto popular, ou seja, de forma direta, era necessária a aprovação da emenda constitucional proposta pelo deputado Dante de Oliveira (PMDB – Mato Grosso).

A cor amarela era o símbolo da campanha. Depois de duas décadas intimidada pela repressão, o movimento das Diretas Já ressuscitou a esperança e a coragem da população. Além de poder eleger um representante, a eleição direta sinalizava mudanças também econômicas e sociais. Lideranças estudantis, como a UNE (União Nacional dos Estudantes), sindicatos, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), intelectuais, artistas e religiosos reforçaram o coro pelas Diretas Já.

Foram realizadas várias manifestações públicas. Mas dois comícios marcaram a campanha, dias antes de ser votada a emenda Dante de Oliveira. Um no Rio de Janeiro, no dia 10 de abril de 1984 e outro no dia 16 de abril, em São Paulo. Aos gritos de “Diretas Já!” mais de um milhão de pessoas lotou a praça da Sé, na capital paulista.

Uma figura de destaque deste movimento foi Ulysses Guimarães (PMDB), apelidado de “o Senhor diretas”. Outros nomes emblemáticos da campanha foram o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a cantora Fafá de Belém e o apresentador Osmar Santos.

No dia 25 de abril de 1984, o Congresso Nacional se reuniu para votar a emenda que tornaria possível a eleição direta ainda naquele ano. A população não pode acompanhar a votação dentro do plenário. Os militares temendo manifestações reforçaram a segurança ao redor do Congresso Nacional. Tanques, metralhadoras e muitos homens sinalizavam que aquela proposta não era bem-vinda.

Para que a emenda fosse aprovada, eram necessários 2/3 dos votos. A expectativa era grande. Foram 298 votos a favor e 65 contra e 3 abstenções (outros 112 deputados não compareceram). Para ser aprovada, a proposta precisava de 320 votos.

Com o fim do sonho, restava ainda a eleição indireta, quando dois civis disputariam o cargo. Paulo Maluf (PDS) e Tancredo Neves (PMDB) foram os indicados. Com o apoio das mesmas lideranças das Diretas Já, Tancredo Neves venceu a disputa.

Segue abaixo um vídeo explicativo referente às Diretas Já e em seguida uma reportagem da TV Globo.

Bibliografia:  http://www.infoescola.com/historia/diretas-ja/

Carta-testamento e Carta-despedida

Getúlio Vargas deixou dois documentos de despedida. O primeiro, conhecido como Carta-testamento, foi divulgado pelo rádio para todo o país logo após o suicídio. O outro, escrito a lápis em papel oficial, que chamaremos de carta-despedida, foi encontrado depois.

A Carta-testamento é a despedida do político Getúlio Vargas. É desafiadora, agressiva, quase triunfante. É um grito de guerra, uma conclamação ao povo para que leve adiante a luta de sua libertação iniciada por ele, Getúlio Vargas.
A carta-despedida é o adeus do homem Getúlio Vargas. É a expressão de sentimentos de amargura, desencanto, derrota. A traição dos amigos, a ingratidão de muitos, o ódio dos inimigos tinham quebrado a resistência do velho de 72 anos, tirando-lhe a capacidade de luta exibida em outras crises. Nela, a morte do homem Getúlio é uma derrota.

Foi a morte trágica do homem Getúlio Vargas que deu à morte do político seu enorme poder de mobilização do sentimento popular. A junção das duas mortes garantiu a Getúlio Vargas a entrada na história após a saída da vida. A imensa multidão de cariocas e outros brasileiros que acompanharam seu féretro do Palácio do Catete até o Aeroporto Santos Dumont foi o testemunho de sua vitória e a garantia de seu lugar no coração do povo e na história do Brasil.

Carta-Testamento

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.

Não me acusam, me insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. 
 

Carta-Despedida

Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.
Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde…

 Fonte:http://www0.rio.rj.gov.br/memorialgetuliovargas/conteudo/expo8.html 

Os EUA derrubaram o presidente do Brasil?

Arquivos recém-abertos revelam toda a influência dos americanos no Golpe de 64. Eles bancaram os golpistas, tinham tropas prontas para intervir e seu favorito sucedeu Jango. Não é conspiração: é história.

John Kennedy tinha um brinquedo novo. Quando os convidados chegaram, o presidente apertou um botão escondido na lateral de sua mesa, acionando um microfone ali no Salão Oval e um gravador no porão da Casa Branca. Era a estreia de uma engenhoca secreta que registrou 260 horas de conversas sigilosas.

Olha que coincidência: a primeira gravação é sobre o Brasil. Das 11h52 às 12h20 de 30 de julho de 1962, debateu-se o futuro e a fritura do presidente João Goulart. O embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, disse que Jango estava “dando a porcaria do país de graça para os…” “…comunistas”, completou Kennedy. O assessor Richard Goodwin ressaltou: “podemos muito bem querer que os militares brasileiros tomem o poder no final do ano”. Isso quase dois anos antes do Golpe de 64.

Desde 1961, com a chocante renúncia de Jânio Quadros e a conturbada posse de Jango, as reuniões de Kennedy sobre nosso país eram monotemáticas: como impedir que o Brasil se tornasse uma gigantesca Cuba? Apesar disso, Lincoln Gordon, embaixador no Rio entre 1961 e 66, morreu em 2009, aos 96 anos, negando que os americanos teriam participado do golpe. Durante e após a ditadura, que foi até 1985, muitos pesquisadores brasileiros menosprezaram o papel dos americanos, tachando investigações nesse sentido de paranoia e teoria da conspiração. Mas documentos revelados nos últimos anos contam uma história diferente, que vai sendo revelada aos poucos.

Parte desse material ganhou destaque no documentário O Dia que Durou 21 Anos, da dupla de filho e pai Camillo e Flávio Tavares – autor de um grande livro sobre a luta contra o regime, Memórias do Esquecimento. O filme apresenta gravações e documentos oficiais e expõe justamente a articulação do governo americano e dos militares brasileiros contra Jango. Arquivos recém-abertos nos EUA estão mexendo até com obras definitivas: os quatro livros do jornalista Elio Gaspari serão reeditados levando em conta as gravações clandestinas de Kennedy e de seu sucessor Lyndon Johnson. E ainda há muito a ser revelado: Carlos Fico, historiador da UFRJ, estima que mesmo com a Lei de Acesso à Informação ainda não se analisou nem 20% dos arquivos dos órgãos de repressão brasileiros.

De qualquer forma, as informações disponíveis já permitem cravar: Jango caiu com um empurrão dos Estados Unidos. O governo americano instigou os militares, financiou a oposição, boicotou a economia e tinha tropas e navios prontos caso fosse necessário intervir. Não foi. Em boa parte, graças ao próprio João Goulart, um presidente que até hoje desafia classificação.

JANGO LIVRE

O vice-presidente João Goulart soube da renúncia do presidente Jânio Quadros após uma viagem oficial à China, durante uma missão extraconjugal em Cingapura. Em 2014, após 29 anos de democracia ininterrupta, seria uma surpresa se o vice não assumisse, seja quem for e esteja onde estiver. Em 1961, a regra não era tão clara. Aliás, era feita para confundir: havia eleição para presidente e também para vice. Os vencedores podiam ser de campos opostos. E, em 1960, foram: Jânio era um salvador-da-pátria de direita, Jango um para-raios de todas as tempestades à esquerda. Quando o presidente deixou o campo após sete meses, seu reserva era de outro time. E o árbitro – nesse caso, as Forças Armadas – não quis que o reserva entrasse.

Jango foi defendido em seu Estado natal, o Rio Grande do Sul, onde o governador (e seu cunhado) Leonel Brizola criou a Campanha da Legalidade para impor sua posse. Com a nação à beira da guerra civil, aceitou ser presidente em um regime parlamentarista. Ganhou o cargo, mas não o poder.

Mesmo enfraquecido, ele assustava Kennedy, que o recebeu em abril de 1962. A primeira-dama Maria Thereza Goulart, rival à altura de Jacqueline Kennedy, encantou Washington, mas os EUA mantiveram dois pés atrás com Jango. Para os americanos, ele era um radical livre. Além de manter boas relações com Cuba, defendia impostos pesados e até a expropriação de empresas americanas no Brasil. Os relatos de Gordon sugeriam que ele se tratava de uma marionete de Moscou.

Em janeiro de 1963, a 14 meses do golpe, Jango recuperou os poderes presidenciais: 91% votaram contra o parlamentarismo em um plebiscito. O pleito tinha sido convocado por ele, o que os americanos compararam a “uma jogada de Garrincha, um jogador de futebol que corre grandes riscos esperando obter grandes ganhos”. Mas ser contra o parlamentarismo não significava ser a favor de Jango. Sim, ele contava com o apoio dos pobres: uma pesquisa do Ibope às vésperas do golpe e não divulgada na época mostrava uma aprovação de 86% entre as classes baixas de São Paulo. Mas um levantamento do oposicionista Aníbal Teixeira no mesmo período mostrava que o golpe era apoiado por 80% do exército, 72% dos empresários, 66% do clero e 58% dos estudantes. Na imprensa, tinha fama de indeciso e incompetente. Havia a suspeita de que ele planejava realizar seu próprio golpe, com o apoio da esquerda.

Jango estava encurralado, e muito por culpa dele mesmo. A história seria diferente se ele tivesse apoio dos americanos? Ou dos militares brasileiros? Se bem que aí é especular demais. O alinhamento desses dois grupos não teve início nesse golpe nacional, mas muito antes, em uma guerra mundial.

COMANDOS EM AÇÃO

Precisou que um submarino alemão afundasse cinco navios brasileiros em 40 horas para que Getúlio Vargas deixasse de manobras e entrasse na Segunda Guerra contra Hitler. Isso foi em 1942. Só em 1944 os primeiros brasileiros chegaram à Itália para lutar sob comando dos EUA. A Força Expedicionária Brasileira era formada por 25 mil pracinhas. O contingente, metade do previsto, era mal equipado e mal preparado – houve meses de treinamento suplementar em solo italiano. Cientes de que organização não era nosso forte, os americanos escolheram como oficial de ligação entre os dois exércitos alguém cujo principal talento era o jogo de cintura: Vernon Walters.

Sem diploma universitário, e militar há apenas três anos, Walters era fluente em sete idiomas. Inclusive português, que aprendeu guiando militares lusitanos em visita aos EUA. Conquistou os brasileiros com gestos simples, como o de conseguir casacos para nossos soldados enfrentarem o inverno nos alpes. Além de condecorações, ganhou o posto de adido militar no Rio de Janeiro entre 1945 e 48.

O período após a Segunda Guerra foi de muito intercâmbio entre oficiais brasileiros e americanos. Após o convívio com forças realmente armadas na Europa, nossos militares pressionavam o governo por mais máquinas, armas e experiência. Centenas foram estudar no exterior, principalmente na Escola das Américas no Panamá, centro de treinamento criado pelos Estados Unidos, e na National War College, inspiração para a criação da nossa Escola Superior de Guerra. Independente do endereço, a ideologia era uma só: eliminar o comunismo.

Esse objetivo não era apenas de militares, mas também de civis. Uma tarefa importante dos agentes da CIA era monitorar a América Latina para avaliar a possibilidade de golpes que evitassem “novas Cubas”. Sean Purdy, canadense professor de história dos Estados Unidos na USP, explica que a agência americana não possuía uma fórmula: podia haver envio de tropas ou apenas apoio logístico e financeiro. E aliados eram imprescindíveis. “Nenhum golpe apoiado pelos americanos aconteceu sem que o país tivesse forças internas para articulá-lo. Ele não era imposto a outras nações. Os EUA têm a sua culpa, mas, também no caso do Brasil, havia parte da sociedade que apoiava a derrubada do governo”, explica Purdy. Durante a Guerra Fria, estima-se que a CIA tenha participado de, no mínimo, 26 golpes de estado.

Naquela primeira reunião grampeada por Kennedy ficou decidido que os EUA apoiariam um golpe militar no Brasil. E que o homem para saber quando e como esse golpe aconteceria era: Vernon Walters. Quando desembarcou no Rio em outubro de 1962 para reassumir o posto de adido militar, 13 generais brasileiros lhe esperavam para dar as boas-vindas.

Para James Green, historiador da Universidade Brown, o fato de Walters cair em um ambiente simpático facilitou sua missão de instigar a derrubada de Jango. O conhecimento acumulado facilitava a ida de um conspirador a outro. Em seu livro de memórias, Walters desconversa: conta que gostava muito de tomar sorvete com os seus amigos, e que não conversava sobre política nesses momentos. “Duvido que isso fosse possível”, diz o historiador americano. Apesar de não haver registros, Green acredita que Walters era influente o suficiente para, de forma sutil, deixar claro o nome que mais agradava aos EUA para ser o primeiro presidente após o golpe. A honra coube justamente a um companheiro de Vernon da Segunda Guerra, um general cearense com quem o americano chegou a dividir o quarto: Humberto de Alencar Castello Branco.

A COR DO DINHEIRO

Nem só de tramas ocultas vive uma conspiração. Também é preciso abrir a carteira. Além de financiar adversários de Jango, os EUA o desestabilizavam negando financiamentos ao Brasil.O apoio aos políticos vinha da Aliança para o Progresso, programa criado no início da gestão Kennedy. Nas eleições estaduais e parlamentares de 1962, era fundamental impedir um crescimento da esquerda brasileira. Rolou uma espécie de mensalão americano: a Aliança distribuiu entre os adversários de Jango US$ 5 milhões – metade do que havia custado a campanha presidencial de Kennedy em 1960. Gordon chamava os contemplados de “ilhas de sanidade”. Caso de João Cleofas, que perdeu a disputa em Pernambuco para Miguel Arraes, e de Carlos Lacerda, que já era governador da Guanabara e assumiu o papel de porta-voz da oposição. O repasse dessa verba marca o início do envolvimento direto dos americanos na política brasileira.

Outra frente de propaganda ficava por conta do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), dois órgãos brasileiros que contavam com financiamento dos Estados Unidos. Ambos produziam conteúdo para rádio, televisão, cinema e jornais pregando o anticomunismo e a oposição a Goulart, frequentemente misturando as duas coisas. Além das campanhas amplas, o plano americano também contemplava ações focadas em público diferenciado e formador de opinião: os militares brasileiros. Gastaram atuais US$ 60 mil em livros para os oficiais, e só em 1963 organizaram 1.706 exibições de filmes “progressistas” em quartéis, bases, escolas e navios.

Não bastasse a campanha de desestabilização interna, havia também boicote externo. Tanto Kennedy quanto Lyndon Johnson, seu sucessor, congelaram os empréstimos que Jango havia acertado com instituições internacionais. Com muito capital investido no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, os EUA podiam decidir quais propostas seriam aprovadas ou não. Como o embaixador Gordon garantia que Goulart vivia sob influência do comunismo e o dinheiro iria para a guerrilha, o pedido era negado. (Gordon não escondia sua antipatia pelo presidente brasileiro. Em agosto de 1963, pôs num telegrama: “é quase certo que Goulart fará de tudo para instituir alguma forma de regime autoritário”. Mais adiante, torce contra sua saúde: “Se Deus é realmente brasileiro, o problema cardíaco de Goulart, de 1962, brevemente se tornará agudo”.)

Menos de um mês depois do golpe, os americanos aprovaram o envio de US$ 1 bilhão para o presidente Castello Branco, o que motivou o Banco Mundial e o FMI a também liberar recursos. Era como se já estivesse tudo acertado. Bom: alguma coisa já estava.

O QUE TODO MUNDO FAZ

Um mês e meio antes de ser assassinado em Dallas, Kennedy chamou Lincoln Gordon ao Salão Oval e apertou o botão mais uma vez. O áudio desse encontro foi postado no site da Biblioteca Kennedy e descoberto por Elio Gaspari – parte dele estará na nova edição de A Ditadura Envergonhada. Em 7 de outubro de 1963, o presidente americano quis saber do embaixador o que fazer com seu colega brasileiro. Gordon respondeu que havia dois cenários: Jango podia abandonar o discurso esquerdista e resolver a coisa de modo pacífico. “Ou não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente.” Gordon buscou instruções: “Vamos suspender relações diplomáticas, econômicas, ajuda, todas essas coisas? Ou vamos encontrar uma maneira de fazer o que todo mundo faz?” Kennedy pega a bola e mais adiante devolve: “Acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?” Pense naqueles 26 golpes com selo CIA de qualidade.

Gordon desaconselhou uma ação imediata. A não ser que Jango se aproximasse de “velhos amigos” como Brizola. Ficou por isso mesmo. Kennedy morreu e a bola passou para seu sucessor, Lyndon Johnson.

Atolado com a Guerra do Vietnã, Johnson repassou a bola para Thomas C. Mann, novo coordenador da Aliança para o Progresso. E bota coordenador nisso: em 18 de março de 1964 se reuniu com todas as autoridades envolvidas com a América Latina. Desse encontro saiu a Doutrina Mann: os Estados Unidos reconheceriam o governo de qualquer aliado, mesmo sob regime autoritário, contanto que continuasse anticomunista. A definição a poucos dias do golpe era um sinal claro para militares golpistas agirem com segurança, escreveu o New York Times no dia seguinte. Mann, em vez de desmentir, declarou: cada caso era um caso.

No caso do Brasil, havia a Operação Brother Sam. Não, não é paranoia: é história, comprovada por múltiplas fontes. Caso os golpistas precisassem de uma força, os Estados Unidos tinham mobilizado um porta-aviões, um porta-helicópteros, tropas de paraquedistas, seis contratorpedeiros com cerca de 100 toneladas de armas e os quatro navios-petroleiros – havia receio que faltasse gasolina para os revolucionários. A operação foi planejada com apoio de brasileiros: o general José Pereira de Ulhoa Cintra, homem de confiança de Castello Branco, seria o responsável por avisar Walters caso necessitasse de ajuda.

O estopim do golpe, no entanto, não veio de Washington, mas do centro do Rio de Janeiro. É lá que fica o Automóvel Clube, onde em 30 de março um Jango em chamas disse a militares aliados que “o golpe que nós desejamos é o golpe das reformas de base, tão necessárias ao nosso país”. Para Jango, as “reformas de base” eram uma bandeira; para a oposição, a aurora do Brasil Soviético. Na mesma noite, chegou a Washington um telegrama afirmando que o golpe aconteceria dentro das próximas 48 horas, partindo de São Paulo ou de Minas Gerais. Foi de Minas: na manhã seguinte, o general Olympio Mourão Filho saiu de Juiz de Fora, dando início ao movimento que derrubaria o presidente. (A linha do tempo que começa na pág. 36 conta o golpe passo a passo.)

Só no dia seguinte Jango voou do Rio para Brasília, onde foi informado que o movimento de Minas podia ter conhecimento e o apoio dos EUA. Para muitos, esse alerta explica a falta de resistência de Jango e sua fuga para o Uruguai: ele não quis enfrentar os americanos. Americanos que nem vieram: em 1º de abril, Castello Branco avisou Gordon que as embarcações da Operação Brother Sam, que vinham do Caribe, podiam dar meia volta.

O deputado Rainieri Mazzilli assumiu a presidência interinamente. Mas quem seria o presidente militar? Costa e Silva, ligado à linha dura, quis impor seu nome. Ficou para 1967. Em 1964, deu Castello Branco – para Green, graças à influência americana. Castello tomou posse em 11 de abril, prometendo “entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo em eleições livres, uma nação coesa”.
Durante os 21 anos de ditadura, Lincoln Gordon a defendeu. Ignorava a censura, a tortura e celebrava o Milagre Brasileiro. Defendeu até o fim que em 1964 o Brasil estava à beira de uma revolução comunista. Nunca se soube por que foi tão fácil para os militares tomar o poder. E talvez nunca se saiba: até hoje não encontraram um gravador no porão do Kremlin.

Fonte: http://super.abril.com.br/historia/eua-derrubaram-presidente-brasil-795935.shtml 

 

 

DITADURAS COMPARADAS

Seminário na Fafich propõe novas abordagens historiográficas para os regimes militares da América do Sul

Gabriella Praça

Ditaduras comparadas

Tortura, repressão política, desaparecimentos e resistência armada são questões que logo vêm à tona quando o tema é ditadura militar. Tradicionalmente, têm sido esses os principais aspectos investigados por pesquisadores da área. O seminário Ditaduras militares em enfoque comparado: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai propõe inovar a abordagem, reunindo estudiosos para discutir outros temas relevantes para pensar os regimes autoritários do Cone Sul, como as políticas aplicadas pelas ditaduras que ajudam a compreender o apoio social recebido por esses regimes.

Promovido pelo grupo de pesquisa História Política – Culturas Políticas na História, da UFMG, o evento acontecerá entre os dias 27 e 29 deste mês, no auditório Sônia Viegas, da Fafich. A programação inclui mesas-redondas sobre políticas educacionais, sociais e culturais, novos olhares sobre a repressão e resgate da memória do período. Estarão reunidos alguns dos principais historiadores das ditaduras do continente, como os brasileiros Marcos Napolitano e Daniel Aarão Reis, a argentina Ludmila Catela e a francesa Maud Chirio, autora do livro A política nos quartéis, em que descreve as divisões internas do exército brasileiro durante o regime militar.

“O Estado que temos hoje é, em grande medida, consequência das políticas implementadas na época, o que faz da ditadura um tema atual”, salienta o professor de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta, presidente da comissão organizadora do evento.

Coordenador do grupo Culturas Políticas na História, Motta lembra que, embora o tema da ditadura esteja em voga na mídia, a maior parte da população ainda revela pouco interesse no debate. A apatia popular, por sua vez, prejudica o pleno exercício da cidadania, que passa pelo exame desse capítulo turbulento da história do país. “Para que tenhamos uma democracia consolidada, é importante que as pessoas se apropriem do passado recente, discutindo e se posicionando em relação aos fatos”, salienta.

Apoio oscilante

O apoio popular ao regime instaurado pelos militares no Brasil sofreu oscilações ao longo do tempo. O momento da deflagração do golpe, em 1964, seguido pelo governo do general Castello Branco, é considerado a fase de maior aceitação. “Nessa época, a grande imprensa desempenhou papel de destaque por difundir uma imagem positiva do novo regime, veiculando a ideia de que o governo do então presidente João Goulart era perigoso e precisava cair”, aponta Rodrigo Sá Motta.

Naquela conjuntura, a ascensão dos militares foi defendida como uma alternativa mais viável para o Brasil, principalmente entre as elites. Outra fase de grande adesão foi a do “milagre econômico”, no início dos anos 1970, já no governo Médici, quando o crescimento do emprego e da renda provocou grande euforia na população. A propaganda do governo, que se notabilizou por slogans como “Brasil: ame-o ou deixe-o”, também colaborou para o clima de otimismo, explorando a ideia de que o país caminhava rumo ao desenvolvimento.

Em contrapartida, houve momentos de impopularidade, como no governo Costa e Silva, no final dos anos 60, marcado por protestos de rua. “Embora o regime também tivesse apoiadores, naquele período foi a oposição que mais se destacou”, observa o historiador. Outra fase de reprovação popular foi a distensão política pós-75. De acordo com Motta, a insatisfação se expressou por meio do retorno das greves e do crescimento da votação dada à oposição reunida em torno do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Semelhanças e diferenças

Em todos os regimes militares estabelecidos na segunda metade do século 20 em países do Cone Sul, o discurso político era basicamente o mesmo: defender a ordem social, a tradição, a família e a pátria; e combater o comunismo, a subversão e a esquerda revolucionária. As ditaduras também se assemelhavam em relação ao emprego da violência e de métodos autoritários. “Embora a quantidade de mortos e desaparecidos varie de forma significativa, a disposição de reprimir opositores com violência e os métodos de tortura utilizados eram parecidos”, avalia o professor.

Já as políticas econômicas diferiam de país para país. No Brasil, estabeleceu-se uma política desenvolvimentista, confirmando a tradição que vinha desde a era Vargas de controle do Estado sobre setores como transportes, energia e indústria de bens de capital, para fomentar o investimento em áreas-chave de infraestrutura. “Por aqui, os militares mantiveram o modelo econômico anterior”, ressalta o pesquisador.

O Chile e a Argentina seguiram caminhos diferentes. Na década de 1970, sob o governo do general Augusto Pinochet, o Chile se tornou o primeiro país neoliberal do mundo, diminuindo a presença do Estado na economia e recebendo grande fluxo de capital externo. Áreas como educação superior e previdência social foram privatizadas. “A ditadura militar alterou a estrutura econômica daquele país, transformando-o no que ele é hoje: um exportador de produtos alimentícios, com forte inserção no mercado internacional e diminuição de taxas alfandegárias”, analisa o historiador.

Já o modelo argentino, segundo ele, foi uma forma intermediária entre liberalismo e desenvolvimentismo. “Houve reformas liberais e maior entrada de produtos estrangeiros, mas, ao mesmo tempo, áreas estratégicas da economia foram mantidas sob controle estatal”, conclui Motta.

Os escombros da guerra no mundo

As ações de Israel em Gaza despertam o antissemitismo na Europa e atiçam ainda mais o fundamentalismo islâmico

O ÓDIO SE PROPAGA
Manifestantes queimam a bandeira de Israel em um protesto em Paris. A crítica a Israel se confunde com antissemitismo (Foto: Oliver Berg/AFP)

A escalada sem fim da violência do conflito entre Israel Hamas na Faixa de Gaza despertou um monstro que parecia adormecido: o antissemitismo. A cada novo bombardeio israelense a uma cidade de Gaza, a cada nova imagem chocante de crianças mortas no conflito e jovens feridos (segundo a última contagem, dos 1.460 palestinos que morreram no confronto, 263 eram crianças), mais e mais gente se volta mundo afora não apenas contra Israel, mas contra os judeus – e faz renascer o nocivo preconceito antissemita.

Os protestos contra as ações de Israel poderiam ser considerados normais, não fosse sua virulência. Atentados contra edificações judaicas na Bélgica e na França, ataques verbais e físicos contra judeus nas ruas de Berlim e propagação do ódio nas mesquitas europeias são motivo para alerta das autoridades na Europa Ocidental. Para não falar no que é dito nas redes sociais. Em Londres, 45 mil manifestantes se reuniram em frente à embaixada de Israel, cantando “Palestina livre” e exibindo cartazes com a estrela de davi riscada. Na França, jovens saquearam e incendiaram lojas judaicas num subúrbio de Paris. Tamanha a virulência antissemita, as autoridades francesas proibiram protestos anti-Israel, mas milhares de jovens manifestantes desafiaram o veto e confrontaram a polícia com pedras e garrafas. Na Alemanha, houve ataques a vários pontos de encontro de judeus. Em Wuppertal, no norte, dois jovens foram presos depois de atirar coquetéis molotov contra uma sinagoga. Os protestos foram tão intensos que a polícia alemã divulgou uma lista de proibições. As principais diretrizes eram: não queimar a bandeira de Israel; não gritar “morte a Israel”; e em hipótese alguma repetir slogans antissemitas, como um canto de rimas em alemão que se tornou cada vez mais comum em comícios pró-palestinos.

>> O Brasil deveria se envolver no conflito entre Israel e Hamas?

Sessenta e nove anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o antissemitismo ganha novos matizes na Europa. Na última década, houve um espantoso crescimento de partidos ultranacionalistas. A crise econômica deu ainda mais fôlego a esses grupos e a seu racismo, camuflado de ceticismo com as políticas da União Europeia. Na Bélgica, na Holanda, na Suíça, na Áustria, na França e na Alemanha, partidos ultradireitistas ganharam relevância e ressonância para seu discurso de xenofobia e ódio contra as minorias – judeus entre elas. As recentes eleições para o Parlamento Europeu consagraram o nacionalismo exacerbado de partidos como a Frente Nacional, de Marine Le Pen, na França; o Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), de Nigel Farage; os ultradireitistas nórdicos do Partido do Povo (o mais votado na Dinamarca); os Democratas Suecos; e o partido húngaro Jobbik, uma sigla abertamente inspirada no nazismo.

A ascensão desses grupos radicais de direita encorajou também neonazistas a colocar a cabeça de fora. Segundo uma pesquisa anual do Centro Kantor para Estudos do Judaísmo Europeu, da Universidade de Tel Aviv, os casos de antissemitismo no mundo cresceram 11% nos últimos dez anos – e tornaram-se mais graves. Há alguns anos, atos de vandalismo como pichações de cemitérios israelitas, escolas judaicas e sinagogas eram as formas mais comuns de antissemitismo. Em 2013, dos 554 incidentes registrados, 185 ocorreram diretamente com pessoas. Judeus passaram a ser agredidos fisicamente.

>> A guerra dos inimigos da paz

Para os neófitos que destilam sua ignorância nas redes sociais e até em artigos para respeitáveis jornais , falar do crescimento de antissemitismo em meio às mortes de palestinos em Gaza pode soar como uma espécie de manobra diversionista. Não é. O ano de 2009 registrou o maior número de atos antissemitas na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. A maioria ocorreu no primeiro semestre, nos meses que se seguiram à Operação Chumbo Fundido, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Na ocasião, Israel desfechou uma ofensiva contra o grupo islâmico Hamas, que matou mais de 1.200 palestinos na Faixa de Gaza. “Nessas ocasiões, o antissemitismo se confunde com a crítica a Israel e com a questão israelense-palestina”, afirma o historiador Wolfgang Benz, diretor do Centro de Pesquisa sobre o antissemitismo da Universidade de Berlim. Em algumas manifestações na Europa, forma-se uma estranha aliança entre grupos de esquerda, islamitas e neonazistas. Todos caminham lado a lado. “Há aí um perigo evidente: o antissemitismo, disfarçado de crítica ao governo israelense, passou a ser socialmente aceitável”, afirma Benz. 

Na esteira do conflito, outro efeito colateral deletério desponta: o crescimento do ódio de árabes e muçulmanos contra Israel e do fundamentalismo religioso islâmico. Os pregadores do ódio encontram um terreno fértil entre os jovens muçulmanos, que enfrentam problemas de integração econômica e social na Europa. Na semana passada, o imã Abul Bilal Ismail divulgou na internet sua pregação na Mesquita al-Nur, em NeuKölln, um bairro no sul de Berlim onde vivem imigrantes muçulmanos. Ismail chamou Gaza de “o país da jihad” (guerra santa) e conclamou os muçulmanos de toda a Europa a “liquidar os judeus”.

A propagação do discurso de ódio não é responsabilidade apenas dos extremistas europeus ou dos críticos da ação do Exército israelense em Gaza. As razões para que ele germine também podem ser encontradas dentro do Estado de Israel. A maioria da população israelense está cansada dos ataques do Hamas e da discussão sobre os palestinos. Por isso, o apoio doméstico ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para a continuidade da guerra em Gaza só tem crescido no decorrer das últimas três semanas. A sociedade e os políticos israelenses estão unidos no propósito de destruir a infraestrutura do Hamas. Uma pesquisa do Instituto de Democracia de Israel revelou que 95% dos judeus israelenses pensam que a operação em Gaza é justa, e quatro em cinco deles se opõem a uma retirada unilateral. Apenas 4% disseram que os militares israelenses usam força excessiva.  “Muitos israelenses veem toda essa hostilidade como o ápice de um longo processo de demonização e deslegitimação do direito de Israel existir”, afirma o pesquisador Amotz Asa-El, do Instituto Shalom Hartman, uma instituição de estratégia de Jerusalém. “Eles sentem que o mundo está contra eles e se unem ainda mais.”

Esse sentimento extremado – presente na sociedade israelense, mas também entre os seguidores do Hamas – é o motor da perenização do conflito. Nele, o povo palestino acaba sofrendo as maiores consequências. Há duas semanas, o secretário de Estado americano John Kerry conseguiu mediar um cessar-fogo de 72 horas, quebrado pelos dois lados menos de 72 minutos depois. Israel e Hamas não aceitam o fim do conflito. Cada lado tem seus motivos para isso. O Hamas palestino está isolado na região depois de perder apoio do Irã, da Síria e do Egito. Por isso, decidiu usar todo o arsenal acumulado nos últimos anos para tentar se fortalecer, ganhar a simpatia do mundo e dos próprios palestinos – e tentar vender o atual conflito como uma vitória. Para atingir esse objetivo, precisa reduzir a intensidade do bloqueio israelense a Gaza, região que governa desde 2007, antes de um cessar-fogo definitivo.

O governo israelense acha melhor seguir com a ação militar mais algum tempo, para enfraquecer o Hamas e eliminar o máximo possível de seus túneis. É uma tática conhecida como “cortar a grama”. De tempos em tempos, Israel ataca o grupo e destrói a infraestrutura do Hamas, de forma a aleijá-lo temporariamente. Na visão de Israel, o Hamas é como a grama: não pode ser destruída, apenas aparada antes de voltar a crescer. A política do “corte de grama” é central para o objetivo do governo de Netanyahu e da coalizão de direita e extrema-direita que ele lidera: manter o impasse, sem anexar os territórios palestinos – muito menos contribuir para a criação de um Estado palestino.

O círculo vicioso criado pelo conflito atual é muito mais daninho para Israel. Ao usar toda a sua capacidade militar para “cortar a grama” do Hamas, Israel se isola internacionalmente, desperta a ira de seus inimigos, põe em risco sua própria legitimidade e abre a caixa de pandora do antissemitismo. Até aliados históricos de Israel, como os Estados Unidos, têm sido mais críticos a essa última iniciativa militar israelense. “Mesmo tendo em conta a brutalidade do Hamas, nenhuma democracia deve ficar feliz com uma estratégia militar que resulta na morte de tantas crianças”, escreveu a revista britânica The Economist na semana passada. Talvez a melhor maneira de Israel aplacar o ódio aos judeus e arrefecer as crescentes críticas fosse seguir o ensinamento de Moshe Dayan, histórico líder político e militar de Israel: “A paz não se faz com os amigos, mas com os inimigos”. 

 Reportagem retirada da revista Época

Bibliografia:http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/08/os-bescombros-da-guerrab-no-mundo.html 

Che Guevara

Conhecido como Che Guevara, um famoso revolucionário socialista do século XX.

No dia 5 de março de 1960, Che Guevara, um dos líderes da revolução cubana, participava de uma solenidade. O fotógrafo Alberto Korda tirou uma foto de Guevara no evento e nunca havia publicado a mesma. No final da década de 60, um editor italiano pediu permissão para publicar a foto. Sem saber que anos depois, a fotografia iria se tornar um dos retratos mais famosos e influentes do mundo, indo parar em banners de protesto e até camisetas por ser considerado um mito latino-americano, um símbolo eterno de coragem e rebeldia contra as injustiças sociais do mundo.

 A revolução cubana não tinha um caráter explicitamente socialista em seus primeiros momentos. A tentativa norte-americana de controlar o novo governo de Fidel, porém, levou este último a aproximar-se da União Soviética, no âmbito da Guerra Fria, e a aderir ao marxismo, criando uma vertente latino-americana do stalinismo, ou seja, a ditadura de um partido único sobre a sociedade. Guevara, por sua vez, não se adaptou à vida burocrática no regime cubano. Acreditava que toda a América Latina precisava ser transformada, através de revoluções sucessivas. Em 1965, deixou Cuba e estabeleceu um foco guerrilheiro na Bolívia, onde acabou cercado pelo exército local. Che foi preso em 8 de outubro de 1967, na selva de La Higuera (Bolívia), e executado no dia seguinte.

A foto do seu cadáver, posto sobre uma maca na lavandeira do Hospital Nuestro Señor de Malta, foi mostrada ao mundo. Soube-se que, para fins de rigorosa identificação, os soldados bolivianos o mutilaram cortando-lhe as mãos que foram guardadas em formol. Transcorridos trinta anos da sua morte, achados por fim os seus despojos enterrados secretamente nos arredores de Vallegrande, os cubanos, recambiando-lhe os ossos, deram-lhe um enterro decente num memorial erguido em Santa Clara onde ele continua sendo um ícone nacional.

Ficou representado como um herói romântico, dotado de habilidades militares, Che Guevara tornou-se um modelo atraente até mesmo entre os jovens dos países capitalistas. O mito de Che Guevara também faz parte da história do Brasil. Em 19 de agosto de 1961, Guevara foi condecorado pelo presidente brasileiro Jânio Quadros com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. A famosa foto de Che, é estampada em camisetas e pendurada nas paredes dos quartos de adolescentes do mundo todo há pelo menos 40 anos e já virou até mascote de torcida de futebol.

Sob os olhos de Perón – O Brasil de Vargas e as relações com a Argentina

peron vargas_link

O livro de autoria do jornalista Hamilton Almeida, lançado pela Editora Record, revela informações inéditas sobre os vínculos dos ex-presidentes Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón. Durante o período de sete anos (1994-2000) que morou em Buenos Aires, onde trabalhou como correspondente dos jornais Zero Hora e Gazeta Mercantil Latino-Americana, Almeida pesquisou e descobriu que Perón financiou acampanha eleitoral de Vargas e também mandou instalar uma base secreta de apoio em Paso de los Libres. Os dois caudilhos teriam feito ainda um pacto secreto de união das duas economias. O jornalista também teve acesso a centenas de documentos do governo peronista nunca antes publicados, que desnudam o Brasil e os brasileiros do final da era Vargas.

Por que você decidiu pesquisar sobre o governo Vargas na Argentina?
Comecei a pesquisar sobre o período comum de governo entre Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón (1951 a 1954) por curiosidade e por imaginar que se poderia encontrar alguma coisa inédita. Afinal, os dois caudilhos foram protagonistas de um momento único na história dos dois países, tinham aspirações semelhantes de união de países latino-americanos e enfrentaram oposições ferrenhas. Uma pergunta me inquietava: o que poderia haver sobre o Brasil nos arquivos argentinos?

Onde você desenvolveu a pesquisa?
Estive no Archivo General de la Nación, mas foi no Arquivo da Chancelaria argentina que encontrei centenas de documentos reservados (Estrictamente confidencial y secreto) do período Perón-Vargas, nunca publicados. A coleta de material de pesquisa durou quase um ano e foi feita de forma paralela às minhas tarefas de correspondente internacional. Para compreender melhor aquele período da história, também entrei em contato com historiadores, amigos e inimigos de Perón, além de fazer pesquisas bibliográficas.

O que você descobriu?
Uma das descobertas foi que Perón financiou parte da vitoriosa campanha eleitoral de Vargas, que marcou seu retorno à Presidência do Brasil. O então presidente argentino chegou a instalar uma base secreta de apoio à candidatura Vargas na cidade fronteiriça de Paso de los Libres. Por lá circularam recursos financeiros e materiais. O chefe dessa operação secreta é um dos entrevistados do livro. Também teria havido um pacto secreto de união econômica entre os dois países, que não vingou. Perón queria formar o ABC (Argentina-Brasil-Chile), mas só conseguiu assinar um pacto com o Chile. Vargas era simpático à idéia de união dos países da região, mas não teve base política para sustentá-la. Qualquer coisa que se relacionasse com Perón era vista por brasileiros de influência como uma ameaça. Pairava no ar o temor de que Perón tinha sonhos de hegemonia regional e sonhava com uma “República Sindicalista”. Vargas não assinou o Pacto ABC porque sabia que isto poderia lhe custar o governo.

Os documentos encontrados nos arquivos da Chancelaria são inéditos?
Sim. Os documentos reservados foram produzidos pela Embaixada da Argentina no Rio de Janeiro, então capital da República. Encontrei esse material em nove grandes e velhas caixas num arquivo que mais parece um depósito de papéis de antigos governos da Argentina. Os “homens de Perón” acompanharam todas as movimentações políticas e econômicas do segundo governo de Vargas e transmitiram suas análises para Buenos Aires. O interessante é que, como eram documentos para consumo interno, os argentinos fizeram um retrato nu do Brasil daquela época. A polida linguagem diplomática cedeu lugar para a visão sem formalidades ou sem piedade da realidade brasileira, de seus políticos, homens de negócios, jornalistas, diplomatas, etc. O Prefácio é do historiador gaúcho Décio Freitas, que, ao ler os originais, disse haver encontrado “verdadeiras pepitas de ourohistoriográfico”.

O livro mostra o Brasil de Vargas sob a ótica do governo peronista?
Pode-se dizer que o livro conta de outra maneira um fragmento conhecido da história brasileira. Os fatos que marcaram o período final do presidente Vargas são conhecidos e estudados. A novidade está em conhecer a história brasileira contada pelo amigo/inimigo. Inédito é o testemunho privilegiado. Naquele tempo, havia forte sentimento de rivalidade, desconfiança, conspirações, temores e inimizades entre as duas grandes nações latino-americanas. Mas também havia espaço para amizades e esperanças comuns.

Qual era a visão que os argentinos tinham do Brasil?
Em um dos documentos, os argentinos de Perón perguntam: quem governa o Brasil? Eles achavam que o poder da imprensa era tão grande que, !”sob múltiplos aspectos”, era capaz de governar o país. O “implacável” Carlos Lacerda e o poderoso Assis Chateaubriand foram objeto de relatórios confidenciais. Eles avaliaram a imprensa brasileira em geral como contrária à Argentina. Há documentos em que se traça um perfil de cada um dos principais veículos de comunicação e suas tendências políticas.

Como era vista a situação política brasileira?
Eles acompanharam a evolução dos últimos anos de Vargas com muita apreensão. Sabiam que o Brasil atravessava um dos momentos mais críticos de sua história e descartavam a possibilidade de golpe militar, apesar de que observavam a influência das forças armadas em todos os atos dapolítica interna. Pensavam que Vargas poderia chegar ao final do seu mandato, porque sabia manobrar com habilidade.

Que opinião tinha do ex-presidente Vargas?
Que era um grande político e um péssimo administrador. Menos de um mês antes do suicídio de Vargas, a realidade brasileira era caótica, na visão peronista: administração inadequada, pauperização do povo, péssimas condições dos serviços públicos, desvalorização constante da moeda, críticas violentas dos órgãos de imprensa… Tudo isso diminuía o poder presidencial.

Outras personalidades também foram alvo de relatórios confidenciais?
Os diplomatas peronistas radicados no Brasil elaboraram listas de nomes de personalidades que demonstraram pensamento favorável, contrário ou neutro a respeito da Argentina e do governo de Perón. Militares, políticos, jornalistas e diplomatas foram classificados segundo as suas tendências.

Que homens públicos mereceram análises dos peronistas?
Todos os principais. Os passos de João Goulart, por exemplo, foram acompanhados com muita atenção. Ele era considerado amigo de Perón. Mas também observavam a sua “falta de valor pessoal”. Adhemar de Barros era considerado como “dotado de grande inteligência e pouca escrupulosidade em matéria econômica”. Jânio Quadros na Prefeitura de São Paulo era uma surpresa na vida política. Foi visto como “um grande trabalhador, honrado e eficiente, mas com discursos que pareciam os de um paranóico”.

E as relações com o Itamaraty?
Eram conflitantes. Para os argentinos de Perón, a política da Chancelaria brasileira se baseava em considerar como lesiva aos interesses do país qualquer união com outras nações do Hemisfério. Julgavam que o Itamaraty tinha autonomia superior até mesmo ao presidente da República.

O que mais os argentinos se preocuparam em analisar?
Os partidos políticos, as forças armadas. A ação desenvolvida pelo Partido Comunista nas massas populares, dentro das forças sindicais e nas forças armadas também foi objeto de análise. Havia certa articulação entre as forças de segurança dos dois países, o que pode ter sido o embrião da Operação Condor. Para os argentinos, a principal defesa contra o comunismo no Brasil estava na passividade da grande maioria da população.

Naquela época se especulava com uma hipótese de conflito entre o Brasil e a Argentina?
Sim porque havia suspeitas mútuas de aspirações de hegemonia no sul do Continente. Para os argentinos, Buenos Aires era vulnerável aos ataques aéreos provenientes das bases meridionais do Brasil.

Fonte: www.record.com.br